A palavra “apneia” quer dizer “sem ar”. Significa que a pessoa tem interrupções/paradas da respiração
durante o sono, em decorrência de um estreitamento exagerado ou da completa obstrução da garganta.
Este quadro, na maioria das vezes, só é percebido por uma outra pessoa, pois quem está dormindo
costuma não sentir essas paradas da respiração.
Geralmente, o que se observa, é um quadro de ronco que vai ficando mais e mais forte,
até que ocorre um silêncio por alguns segundos (a pessoa parou de respirar) que é interrompido
por um ronco ressuscitador, quando a pessoa volta a respirar.
Este quadro pode acontecer várias vezes por hora de sono. A Apneia Obstrutiva do Sono compromete
a qualidade do sono, e mesmo que a pessoa durma várias horas por noite, ainda assim, acorda
cansada e indisposta, apresentando sonolência diurna exagerada durante o dia.
Como este quadro costuma ser crônico, com duração de meses ou anos, é comum que a pessoa
tenha alterações emocionais em decorrência da má qualidade do sono, como irritabilidade e depressão.
Além disso, a pessoa que tem Apneia Obstrutiva do Sono em grau moderado a severo tem um maior risco de morte
por doenças do coração como infarto, arritmia e hipertensão arterial, assim como por acidente vascular cerebral.
Devido ao quadro de sonolência incontrolável, estas pessoas têm um maior risco de acidentes de carro e de trabalho.
A Apneia Obstrutiva do Sono é classificada de acordo com o número de paradas da respiração que ocorre por hora de sono.
● 5-15 vezes/hora é Leve;
● 15-30 é Moderada; e
● Acima de 30vezes/hora é Severa.
Então vejamos, uma pessoa com quadro severo de Apneia Obstrutiva do Sono e que dorme 7 horas por noite,
apresenta pelo menos 210 episódios de apneia durante uma única noite de sono.
Isso quer dizer que a cada 2 minutos de sono essa pessoa tem uma parada ou interrupção da respiração!
A presença de Apneia Obstrutiva do Sono pode ser muito grave e prejudicial à saúde e qualidade de vida das pessoas,
devendo ser investigada e tratada adequadamente.
O tratamento da apneia do sono é individualizado e depende principalmente da gravidade das apneias e da presença
de outras doenças associadas e se o paciente apresenta ou não alterações anatômicas da via aérea superior.
É muito comum os pacientes chegarem ao consultório e falarem que estão lá para resolver o problema
do ronco. Perguntando qual medicamento eles podem fazer uso.
Não temos hoje um tratamento com remédio capaz de tratar o ronco ou a Apneia Obstrutiva do Sono.
Algumas medidas comportamentais e mudança de hábito podem aliviar o quadro. Quem tem ronco ou tem apneia do sono deve:
● Evitar consumir álcool à noite;
● Fazer refeições leves à noite;
● Não exagerar na quantidade de alimento à noite;
● Jantar o mais cedo possível;
● Evitar medicamentos sedativos e relaxantes musculares à noite;
● Procurar dormir as horas necessárias; o cansaço pode piorar o quadro;
● Não descuidar do tratamento da rinite; a obstrução nasal pode piorar o quadro;
● Procurar dormir mais em decúbito lateral; dormir de barriga para cima pode piorar o quadro; e
● Dormir com a cabeceira da cama um pouco elevada (pode usar o travesseiro anti-refluxo).
O uso do CPAP (veja o meu post sobre CPAP) é o principal
tratamento para apneia do sono de grau moderado a severo por ser o
mais eficaz e por ser o tratamento que traz melhores resultados, principalmente para os casos mais graves.
A Perda de Peso quando necessária está diretamente relacionada com a melhora e diminuição da Apneia
Obstrutiva do Sono. Com 10% de perda de peso pode-se reduzir em até 30% o índice de Apneia Obstrutiva do Sono.
A perda de peso não necessariamente elimina totalmente a Apneia Obstrutiva do Sono, isto porque outros
fatores podem estar associados à causa do quadro.
O Aparelho Intraoral (um aparelho intra-bucal feito pelo dentista) é uma placa
dentária superior e inferior usada durante o sono que ocasiona deslocamento da mandíbula para
frente, aumentando o tamanho da garganta durante o uso da placa.
Este tipo de tratamento tem sido utilizado com bons resultados principalmente em pacientes
com Apneia Obstrutiva do Sono de grau leve. No entanto, apesar do benefício do aparelho intraoral,
é difícil predizer com certeza qual paciente que vai ter uma resposta satisfatória, por isso é
importante consultar um médico especialista antes de confeccionar o aparelho intraoral para
saber antes se estaria indicado ou não.
Cirurgia pode ser opção de tratamento para alguns pacientes. No entanto, cada
paciente precisa ser avaliado criteriosamente pelo médico, onde além das alterações no exame
físico da via aérea, o médico vai levar em consideração o grau da Apneia Obstrutiva do Sono
e a presença de obesidade, para determinar se uma cirurgia poderia ser benéfica ou não.
A principal cirurgia é a cirurgia faríngea ou da garganta (amigdalectomia com palatoplastia).
Aquelas técnicas utilizadas no passado, que retiravam a úvula/campainha, tiveram resultados muito
ruins e deixaram de ser realizadas (ainda há profissionais que indicam este procedimento).
A cirurgia do palato evoluiu muito nos últimos anos com preservação da úvula sendo que o objetivo
principal é reposicionar a musculatura do palato e não mais remover a úvula. Os melhores resultados
são quando o paciente tem amígdalas e estas são removidas na cirurgia.
As cirurgias nasais podem ser indicadas para algumas pessoas. Porém, a obstrução nasal
não é a principal causa do ronco ou das apneias, mas uma situação que piora e agrava o quadro.
As cirurgias para correção da obstrução nasal (septoplastia, polipectomia ou turbinectomia) tem um impacto
menor na melhora dos quadros de ronco e de Apneia Obstrutiva do Sono, no entanto, podem ser fundamentais
para que um paciente que apresenta dificuldade de respirar, possa utilizar melhor o CPAP.
As cirurgias esqueléticas da face (da estrutura óssea da maxila ou da mandíbula) podem ser indicadas
em alguns casos. Estas cirurgias fazem avanço e/ou expansão da maxila e da mandíbula e são conhecidas por
diferentes nomes: cirurgia ortognática da face, avanço maxilo-mandibular, expansão maxilar, cirurgia buco-maxilofacial.
A indicação principal é para aqueles pacientes que apresentam deformidades esqueléticas.
Quando bem indicadas e bem realizadas, por profissionais experientes (médicos e dentistas buco-maxilo)
os resultados podem ser muito bons.
Para os pacientes com obesidade grau 3 ou obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica
pode ser uma opção de tratamento. A melhora do quadro de ronco e apneia vai ocorrendo
progressivamente à medida que o paciente vai perdendo peso.
Alguns pacientes que usam CPAP e que se submetem a cirurgia bariátrica com uma perda de peso significativa,
com melhora das apneias, podem inclusive parar de usar o CPAP após atingirem o peso ideal.
Outra opção para alguns pacientes seria a Terapia Posicional, que nada mais é do que
fazer com que o paciente durma somente de lado. Ao dormir de barriga para cima, o efeito da gravidade
sobre a língua e o palato mole, desloca estes tecidos para trás, estreitando a garganta.
Alguns pacientes só apresentam ronco e Apneia Obstrutiva do Sono, ou tem seu quadro agravado ao
dormirem de barriga para cima. A estratégia mais simples é colocar uma bola de isopor ou de tênis
presa nas costas de uma camiseta, que vai impedir que o paciente durma de barriga para cima.
Mecanismos mais modernos como sensores vibratórios que são acionados quando o paciente vira
de barriga para cima, estão disponíveis no mercado, mas não ainda no Brasil.
Exercícios para a musculatura da boca e da faringe (exercício mio-funcionais),
realizados com a supervisão de uma fonoaudióloga, podem ser uma opção para um grupo pequeno
de pacientes, apresentando melhor resultado nos casos de ronco e Apneia Obstrutiva do Sono de grau leve.
Logo, não é um tratamento indicado para todos os pacientes. A melhora costuma ser parcial
e o maior problema é a adesão a médio para longo prazo, pois o paciente precisa manter
os exercícios de forma contínua por pelo menos 4-5 vezes na semana.
Alguns tratamentos são parcialmente efetivos, ocorrendo uma melhora, mas não
um controle completo do quadro. Na maioria dos casos, o que traz mais resultado é a combinação de tratamentos.
Como por exemplo, usar o AIO e dormir em decúbito lateral. Realizar cirurgia
das amígdalas, dormir de lado e usar AIO. Quando se pensa no melhor
tratamento para AOS, a mudança no estilo de vida associado a um tratamento
individualizado que vai ser indicado pelo médico, é a melhor maneira de obter um resultado satisfatório.
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